Interrogações Económicas

Nos últimos dias, o INE publicou talvez os dois indicadores mais populares do momento em Portugal. Dia 14 de Agosto, o INE divulgou os dados da taxa de desemprego estimada para o 2º trimestre de 2009: 9,1%. Este valor é superior ao observado no período homólogo de 2008 em 1,8 pontos percentuais (p.p.) e ao observado no trimestre anterior em 0,2 p.p.. A população desempregada foi estimada em cerca de 507 mil indivíduos, verificando-se um acréscimo de 23,9% face ao trimestre homólogo, e de 2,4% em relação ao trimestre anterior. O número de empregados diminuiu 2,9%, quando comparado com o mesmo trimestre de 2008, e 0,4%, relativamente ao trimestre anterior. Estes valores não são nada animadores, e trata-se mesmo do valor mais alto de desemprego dos últimos 20 anos. Na Primavera deste ano, a Comissão Europeia apontava, no seu relatório "Spring Forecasts", o ano de 2010 como ano provável para se atingir a taxa de 9,1%. E recordo que na Primavera deste ano, viviamos ainda mergulhados no pesadelo da crise, e o nosso indicador de confiança estava no nível mais baixo de sempre. Mas foi também a Primavera de 2009 que nos trouxe o alento da possível recuperação.

Os indíces bolsistas já atingiram máximos dos últimos 10 meses e prevê-se que continuem a subir, suportados pelo aumento da confiança e pela liquidez disponível nas famílias (resultante da quebra das taxas de juro, que lhes permite poupar algumas centenas de euros, por exemplo, na prestação mensal do seu crédito à habitação). O consumo privado prepara-se agora para "descolar", até porque está a chegar o período escolar e depois o Natal, épocas de significativos gastos por parte das famílias. O consumo publíco deverá continuar a aumentar, até porque em ano de eleições, o Governo quererá passar a mensagem que fez tudo para contornar a crise e desencadear um novo crescimento económico. Isto poderá fazer finalmente as empresas recuperarem o seu folêgo e aptidão para o investimento, aptidão essa que se retraíu bastante no primeiro semestre deste ano, com a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) a cair mais de dois digítos.

A 13 de Agosto, o INE apresentou a sua "Estimativa Rápida do Produto Interno Bruto" (PIB), apontando para uma diminuição de 3,7% em volume no 2º trimestre de 2009 face ao período homólogo, o que compara com a variação de - 3,9% registada no trimestre anterior. O PIB no 2º trimestre de 2009 terá registado uma variação de 0,3% face ao trimestre precedente.

O PIB Português cresceu no 2º Trimestre face ao 1º Trimestre de 2009. O país saíu do estado de "recessão técnica", estado esse que se atinge quando durante dois trimestres consecutivos o PIB nacional decresce. Este feito trouxe mais optimismo aos mercados, pois era algo que ainda não era esperado. Mas este é um efeito ainda muito débil, que resultou principalmente do facto de as exportações terem contraído menos que as importações. Será que a tendência se manterá até final de 2009? Será que o flagelo do desemprego poderá estar prestes a finalizar?

As respostas a estas questões são respostas precipitadas. Apesar de termos indicadores económicos a evoluir de forma favorável, julgo que as empresas e os consumidores irão manter-se prudentes durante mais algum tempo, o que evitará que o consumo privado e o investimento das empresas possa descolar para servirem de alavancas ao nosso crescimento. O comércio mundial também vai levar mais algum tempo a recuperar da primeira quebra desde finais da Segunda Grande Guerra Mundial. É uma questão de tempo. Até lá, fica o desafio: repensemos a nossa economia, para sairmos vencedores desta crise, para sermos mais competitivos que nunca.


Fonte:
Instituto Nacional de Estatística, Estatísticas do Emprego, 2º Trimestre de 2009
Instituto Nacional de Estatística, Contas Nacionais Trimestrais - Estimativa Rápida, 2º Trimestre de 2009

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