Criatividade, Intersecção e Hotspots

Há meia dúzia de anos atrás pouco se falava em criatividade nas empresas, nas Escolas de Gestão e Economia e muito menos no discurso político. E até mesmo antes de se começar a falar em criatividade, começou-se a falar em Inovação, mesmo apesar da base da inovação ser a criatividade. Porque é que agora se começa a dar tanta importância à criatividade? Porque estamos em plena crise económica e por isso estamos a acelerar a nossa transição para um novo modelo de desenvolvimento económico (as economias mais desenvolvidas estão a converter-se em Economias da Inovação). Este novo modelo económico permite que a nossa economia e as próprias empresas se adaptem ao novo paradigma económico, recheado de turbulência fruto do ritmo acelerado de mudança.

Vejamos: como pode a nossa empresa ser mais competitiva, se não existe um espaço ou um sistema de criatividade e de inovação, e se não existe tempo para pensar em novas ideias, soluções ou projectos? Quantos de nós, diariamente, não vivemos "afogados" em trabalho corrente, que pouco ou nenhum valor acrescenta ao desenvolvimento económico da nossa empresa? Ou mesmo existindo tempo, será que conseguimos pensar em algo novo e que consiga realmente produzir valor económico quando estamos rodeados pelas mesmas pessoas, pela mesma circunstância e pelo mesmo meio?

Existem já inúmeras investigações que apontam a Intersecção como o grande elemento disruptivo do contexto criativo. A Intersecção possibilita as equipas de trabalho de trabalharem com base em novos paradigmas, abrindo desta forma os horizontes do seu pensamento criativo, em vez de estarem confinados aos mesmos pressupostos. A Intersecção alcança-se quando diferentes conhecimentos recombinados num local espaço-temporal diferente da sua origem, podem resultar em novas ideias e inovações numa da indústria ou empresa.

Confusos? Então vamos ver desta forma: quando um trabalhador de uma indústria A passa para a indústria B, normalmente traz consigo imensas ideias novas, porque na indústria B as novas ideias nunca haviam sido implementadas, enquanto na indústria A essas ideias eram já correntes. Penso que todos de nós ou já experimentámos esta sensação ou conhecemos alguém que já trocou de indústria. Isto é a Intersecção. Quando diferentes conhecimentos se cruzam e surgem novas ideias. Isto pode acontecer quando mudamos o contexto industrial ou quando na nossa equipa de trabalho trazemos pessoas com formações e pontos de vista completamente diferentes. Quando temos pequenas equipas criativas multi-disciplinares a trabalhar em organizações em regime full-time em novos projectos de criatividade e inovação, estamos perante um hotspot empresarial.

Os hotspots empresarias podem ser um departamento numa empresa, ou podem ser um cluster de empresas num dado território. Hoje, fala-se também cada vez mais em hotspots enquanto espaços territoriais como cidades ou regiões. Numa cidade, por exemplo, temos os conhecidos exemplos de Barcelona, Londres ou Nova Iorque, espaços que combinam uma grande diversidade intercultural e étnica, e aliam os negócios à investigação científica, fazendo uso das Universidades, dos Laboratórios e Institutos públicos, construindo assim um mega cluster criativo. Estes são espaços empreendedores, capazes de atrair e reter talentos, porque são locais em que conduzem os restantes territórios para o crescimento económico. E é disto que se trata: quanto melhor o sistema criativo, melhor as inovações produzidas e melhor o valor económico daí retirado. Simples? Então porque não fazemos o mesmo?

Comentários

Ola Pedro,

Gostei do texto.

Mas relativamente À razão porque não se inova não acho que seja exactamente a falta de tempo.

A maioria de empresas e trabalhadores justifica-se com a falta de tempo, mas o que eu vejo na maioria das empresas é pessoas a andarem de um lado para o outro, a fingirem-se ocupadas quando na verdade não o estão.

Penso que a resistência À mudança é mais uma questão cultural. Cada pessoa pensa: "da forma que as coisas estão tenho emprego. Se mudarem não sei se tenho"

Abraço
Pedro Janeiro disse…
Olá Hugo,

Agradeço a tua opinião. De facto, não referi a falta de tempo enquanto a única razão para não inovar. Apenas apontei a falta de tempo como uma possível limitação, tal e qual como apontei a falta ou a ausência de um sistema ou processos que apoiem a criatividade numa organização. Claro que se uma liderança numa organização não incentivar os colaboradores a investirem uma ou duas horas por mês/semana/dia a pensarem de forma diferente, dificilmente isso acabará por acontecer, pois as pessoas estarão absorvidas por outras tarefas (seja que tarefas forem).

Eu considero que na maior parte das empresas, as ditas SME's e SOHO's, o principal entrave à inovação é a falta de incentivo (liderança e/ou sistemas/processos) ou a ausência de uma cultura organizacional forjada em torno da inovação.

Julgo que em organizações inovadores, a cultura do erro é fomentada e elogiada, enquanto em organizações menos inovadoras, a cultura do erro é de todo evitada. E com o tempo, o colaborador que não pode errar, perde o entusiasmo e a vontade para poder concretizar novas ideias.

Julgo que acima de tudo, é então a conjunção da Liderança com a Cultura Organizacional os verdadeiros determinantes para condicionar ou facilitar a acção criativa, e consequentemente a inovação.

Um abraço,

Pedro Janeiro