Zona Euro pode estar em perigo

O acrónimo PIGS é utilizado já há alguns anos por economistas, académicos, jornalistas e financeiros para se referirem aos quatro países da Zona Euro do Sul da Europa com pior desempenho económico: Portugal, Itália, Grécia e Espanha. No ano passado, e em virtude da grave crise Irlandesa, os PIGS ganharam mais um "I" e passaram a ser PIIGS (incluindo assim a Irlanda). Mas como não há duas sem três, surgiu já neste ano de 2010 o acrónimo STUPID ou STUPIID para Spain (Espanha), Turkey (Turquia), UK (Reino Unido), Portugal, Irlanda, Itália e Dubai. Poderíamos passar o resto do post a inventar acrónimos, mas isso não interessa de momento. Interessa sim analisar o que considero ser o início do fim da Zona Euro e perceber se realmente estamos longe ou próximo de assistirmos à implosão deste espaço.

Se tivéssemos de identificar duas grandes incertezas cruciais para o futuro da Zona Euro, utilizando um horizonte temporal de cinco anos, essas incertezas seriam:
  1. Terão os PIIGS capacidade para garantir a sua competitividade estratégica e proceder às reformas e correcções necessárias?
  2. Estarão os credores internacionais disponíveis para continuar a auxiliar estas economias garantindo avultados empréstimos?
Estas são as interrogações chave. E parece-me que a segunda incerteza está comprometida com o desempenho da primeira. Mas vamos por partes.

A Zona Euro nasceu oficialmente em 2001, com a entrada em circulação do Euro. Inicialmente, o esforço entre os vários Estados Membros para garantir uma mesma política monetária, era vista como uma medida decisiva para garantir a consolidação económica e política da União Europeia e projectar a relevância da mesma na Economia Mundial. A meu ver, este foi o primeiro erro dos decisores económicos Europeus. E porquê? Porque a realidade económica e social da União Europeia era e ainda é muito assimétrica. Porque os países do Sul, principalmente a Grécia, não souberam reformular as suas economias e mantiveram um modelo de desenvolvimento económico assente no baixo custo de mão-de-obra, de forma a atrair novos investimentos internacionais e a aumentar as suas exportações. Para percebermos o quanto estamos atrasados no nosso rumo de desenvolvimento económico, basta perceber que termos como Inovação, Internacionalização e Empreendedorismo apenas são mais correntes de há cinco anos para cá. Isto indica que até essa data, a prioridade era captar IDE (Investimento Directo Estrangeiro), e vender para o restante espaço comunitário.

Para exportarmos, necessitávamos mais do que apenas mão-do-obra barata: necessitávamos também de moeda barata. Acontece que com o Euro isso mudou. Com o Euro, perdemos competitividade para o resto do mundo. Porque se produzir em Portugal era barato, agora a nossa moeda tem o mesmo valor que a moeda da Alemanha. Mas como exportamos a maior parte do que produzimos para a União Europeia, não sentimos muito o efeito da alteração. Mas a moeda deixou-nos em pé de igualdade com os restantes Estados. Agora, já só podemos competir com base na nossa produtividade e no custo da mão-de-obra (são os principais indicadores para o modelo de desenvolvimento económico assente na produção de bens). E em 2004, começámos a assistir a deslocação das fábricas para os novos países da União Europeia, mais a leste...

A situação em Portugal, Grécia e Espanha tornou-se insustentável com a crise de 2008/2009. A crise não acabou. A crise vai continuar porque estamos mergulhados nela. O nosso modelo de desenvolvimento antigo já não serve para os dias de hoje. Mas é nas tensões entre Alemanha e França vs os PIIGS que irá se jogar o futuro da Zona Euro. Se a Alemanha e a França, tradicionais economias exportadoras e aforradoras dos países PIIGS necessitam de um Euro Forte para minimizarem o impacto do aumento do petróleo, os PIIGS necessitam de um Euro frágil para aumentarem as suas exportações. E mais, a Alemanha e a França já estão muito próximas de congelar a sua compra de títulos da dívida dos PIIGS. E no dia em que os PIIGS deixarem de conseguir captar financiamento externo para pagarem as suas dívidas ao exterior (ciclo vicioso: pedir emprestado para pagar empréstimo), então nesse dia, será o fim da Zona Euro. É tudo uma questão de confiança, e os PIIGS já estão severamente desacreditados...

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