O problema Grego e a solução Portuguesa

As economias Grega e Portuguesa são diferentes. Disso não haja dúvida. A Grécia tem uma dívida pública acumulada próximo dos 115% do seu PIB enquanto Portugal tem uma dívida pública ainda abaixo dos 77% do seu PIB. E nem vale a pena falar do défice orçamental, pois se no caso dos Gregos, em 2009, foi registado um défice de 13,6% do PIB, no caso Português esse valor ficou-se nos 9,4%. E estes dois indicadores são fundamentais para percebermos o ponto de situação de cada uma das economias neste momento. Mas por enquanto, estamos apenas a analisar valores estáticos, e não estamos a comparar tendências.

E no campo das tendências existe uma grande diferença entre Portugal e Grécia. Nos últimos dez anos, Portugal tem registado um crescimento anémico enquanto a Grécia tem crescido acima dos acima dos 3%. E é aqui que reside a maior incerteza do lado português. Se Portugal conseguir voltar a crescer acima dos dois pontos percentuais nos próximos três anos, o país recuperará facilmente a sua credibilidade. Mas se muitos analistas internacionais duvidam da nossa capacidade competitiva, é porque se estão a esquecer-se de analisar uma componente fundamental no crescimento económico moderno.

E como analisar os factores de crescimento? Quais são os mais importantes? O modelo de crescimento de Solow, um conhecido economista norte-americano, consagrava a existência de três factores fundamentais: o capital humano (as competências e qualificações da população activa), o capital físico (o investimento e o valor das infraestruturas) e o progresso técnico, algo que representava na equação de crescimento económico, as melhorias associadas à tecnologia, à organização industrial e eficiência produtiva, modelos de gestão, etc. No fundo, o Progresso Técnico é algo a que me arriscaria a comparar aos efeitos associados ao investimento em Inovação. E é no campo da inovação que penso que Portugal tem algo a ensinar aos Gregos.

Se podemos arriscar-nos a dizer que o Progresso Técnico representa a Inovação, e se existem diversos estudos internacionais que atestam a correlação entre investimento em Inovação e o crescimento do PIB, então, podemos afirmar com algum grau de certeza que economias mais inovadoras serão também certamente aquelas que em mercados competitivos e amadurecidos podem continuar a registar taxas de crescimento positivas.

O EUROSTAT divulgou hoje que Portugal, cresceu no primeiro trimestre deste ano 1% face ao trimestre anterior, e face ao período homólogo cresceu até uns "expressivos" 1,7%. O mundo ficou surpreendido, mas o mundo esqueceu-se que Portugal já investe 1,51% do seu valor de PIB em I&D (trata-se do valor mais elevado de sempre no nosso país)! Por outro lado, a Grécia que investe apenas 0,58% do seu PIB em I&D, registou um crescimento negativo de 0,8% no seu PIB face ao trimestre anterior e de 2,3% face ao trimestre homólogo.

O investimento em I&D não é um indicador absolutista em termos de explicação de desenvolvimento e crescimento económico, mas é uma medida de esforço de uma nação no que toca à sua política de competitividade. E Portugal neste domínio está francamente à frente de países como a Itália (1,18% do PIB em I&D), Espanha (1,35% do PIB em I&D) ou Irlanda (1,43% do PIB em I&D).

Portugal tem um longo caminho a percorrer ainda e o valor de 1,51% do PIB investido em I&D ainda está aquém da média da UE (que é de 1,9%), mas posso afirmar com toda a certeza e confiança que neste domínio, Portugal é completamente diferente da Grécia. Para melhor.


Fonte: EUROSTAT

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