Arquitectura social e lógicas dominantes: um sistema de condicionamento à inovação

Sabemos que no que toca à inovação e consequentemente à criação de valor, o nível de conhecimento intensivo acumulado que o capital humano de uma dada organização ou território acumula representa o substrato ideal para a sustentação da competitividade estratégica do sistema em causa. No entanto, e apesar do capital humano e do conhecimento serem fundamentais, para o sistema funcionar na perfeição são necessários processos, processos que consigam ligar a estratégia ao modelo económico (ou de negócio) pretendido.

Os processos podem permitir respostas rápidas e flexíveis ou podem inibir este comportamento devido a uma elevada rigidez. Num mundo caracterizado por uma elevada incerteza, convém que as organizações desenhem processos ágeis, capazes de se enquadrar facilmente perante novos desafios e exigências. Mas, os processos reflectem, regra geral, os mindsets, os comportamentos, os skills, as estruturas de decisão, que tão bem caracterizam uma dada organização. Tipicamente os processos podem ser vistos como o esqueleto que caracteriza a arquitectura social de uma determinada entidade, isto é, a "soma de todos os sistemas, processos, crenças e valores que determinam o comportamento dos indivíduos, as suas perspectivas e skills dentro de uma dada organização". A arquitectura social pode incorporar ainda a própria estrutura da organização, as métricas habituais de performance, os sistemas de incentivo e recompensa, a gestão de carreiras, entre outros.

A arquitectura social é mais do que a cultura organizacional. A arquitectura social é o desenho da organização em si, do sistema de interacções entre agentes, do conjunto de valores, crenças, conhecimentos e perspectivas. A arquitectura social é também algo onde estão patentes as lógicas dominantes, isto é, os dogmas que a organização consolidou ao longo de anos e anos de existência e de actuação no mercado.

A arquitectura social pode condicionar a inovação nas organizações. Pode representar um sistema rigído, repleto de inércia, com conhecimentos acumulados insuficientes para fazer face a novos desafios ou projectos mais complexos de inovação. Pode representar mesmo a ausência de sistemas de incentivos, ou a existência de estímulos desadequados. Uma organização para se tornar inovadora tem obrigatoriamente de perceber e de conseguir fazer evoluir a sua arquitectura social. O primeiro passo será mesmo o de compreender o seu actual sistema social e perceber quais os seus pontos fortes e fracos.

Compreender também qual a sua lógica dominante ou os dogmas instalados pode ser encarado como um passo importante para conseguir desenhar novos modelos de negócios e encontrar novas formas de criação de valor e de resposta às exigências dos seus clientes.

A arquitectura social pode ser vista como algo próximo de um sistema local de inovação. Foca-se não apenas nas componentes quantitativas mas também qualitativas. No entanto, as organizações têm de ter consciência que fazer evoluir a sua arquitectura social rumo aos objectivos traçados pode ser considerado muito difícil. Pois tipicamente o desenho de arquitecturas sociais não é algo que os decisores das empresas ou mesmo os responsáveis de inovação e de recursos humanos conseguiam elaborar. Desenhar uma arquitectura social é algo complexo, mas algo que pode alavancar a competitividade estratégica da entidade tanto no curto como no longo prazo.


Bibliografia:
Prahalad CK, Krishnan MS. 2008. The new age of innovation. McGraw-Hill.

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