Porque não cresce o PIB Português? Uma análise na óptica da despesa

Muitos se fala sobre as razões do não crescimento do PIB Português. Há quem diga que é pela fraca produtividade do país, outros dirão que é por termos um Estado demasiado gastador, outros porque importamos mais do que aquilo que produzimos. Este post vem relembrar uma das rubricas mais nobres da análise ao crescimento económico: a teoria do crescimento do PIB pela óptica da despesa.

Na macroeconomia, e para um modelo em economia aberta (ou seja, uma economia que tem trocas comerciais com outros países) tem-se que o PIB (representado por "Y") é igual ao somatório entre Consumo Privado ("C"), o Consumo Público ("G"), o Investimento ("M") e as Exportações Liquídas ("NX", isto é, as Exportações menos as Importações). Então, podemos representar:

Y = C + G + I + NX, em que NX = Exportações ("E") - Importações ("M")



De acordo com o primeiro gráfico, analisamos três factores (consumo privado, consumo público e investimento), acrescidos de um quarto (a poupança, que é dada pela diferença entre o rendimento das famílias e o consumo, e que por sua vez será utilizado para sustentar em parte o investimento). Todos os factores são dados em percentagem do PIB, para ser mais fácil a análise às alterações estruturais). Entre 1960 e 2010, isto é, nos últimos 50 anos, o consumo privado, não variou consideravelmente, tendo-se mantido próximo dos 70% do valor do PIB. Já o Consumo Público (o consumo do Estado na economia), aumentou continuadamente de 10 para 20%. O investimento que em 1960 era de cerca de 20% do PIB, atingiu por diversas vezes os 30%, mas desde 2000 que apresenta uma rota claramente decrescente, a par com a tendência decrescente da poupança, embora esta já iniciada em torno de 1990.

Por esta análise, percebemos dois pontos fundamentais: a poupança representa menos de 10% do PIB português desde 1994, o que face ao nosso nível de investimento e consumo (privado e público) significa que necessariamente estamos a contrair dívida (o que é mau para o nosso futuro, tal como se viu pelos acontecimentos das últimas semanas/meses); o investimento, a par da poupança, é a única rubrica a cair, o que condiciona naturalmente o crescimento.

Noutro gráfico, reparamos que a nossa balança comercial é negativa desde 1996, isto é, o valor das nossas importações superam o valor das nossas exportações, apesar de no período 2000-2003 e 2005-2010 se registarem tendências de mudança dessa realidade, com as exportações a aumentarem mais que as importações. No entanto, o valor de NX é sempre negativo, pelo que isso tem um efeito de decréscimo do nosso PIB. A juntar-se ao sinal negativo de NX, temos também o sinal negativo no Investimento. Apenas o consumo privado e o público têm conseguido manter o nosso parco crescimento do PIB (e isso tem limites, pois o Estado e as famílias não podem aumentar o seu consumo indefinidamente).

Em Gestão, costuma-se dizer que a perda de recursos é uma má actividade da função financeira. Em Economia, a perda constante de recursos também é uma má política. O Estado Português deve continuar a promover activamente o aumento das exportações acima das importações, e principalmente a proporcionar incentivos à poupança como futuro motor do nosso investimento. É urgente estancar a perda continuada de recursos. A nossa competitividade estratégica depende disso.

Comentários

Graveheart disse…
Muito Boa Análise... Agora deixa-me explicar uma coisa em género de pergunta. Que Exportações??? Essa é maior questão...Umas das explicações para o decréscimo das nossas exports 1996-2000 foi a taxa de cambio 1€=200 escudos que fez valorizar as nossas exports ou seja ficaram mais caras. Um bom exemplo é os texteis. No entanto, com entrada no € podemos competir directamente com países como a Alemanha em produtos mais caros, como é o sector dos moldes e produtos automóveis.
Pessoalmente acho que deviamos começar a expandir horizontes, não numa exportação de bens mas serviços. Um exemplo, é o sistema financeiro, um mais tecnologicamente avançados do mundo, bem como coeso, apesar de muito tradicional e pouco empreendedor.
Concordo contigo que o Estado devia apoiar, ou seja, não tributar tanto. Olhemos o exemplo da Holanda baixos impostos levam a que empresas como a Sonae, PT, JM tenham a sua sede fiscal na Holanda, tal como dizes evitar a perda de recursos, poupança e investimento dentro do país. Assim I=S.

Nota: Em 1990, foi o começo do chamado período de vacas gordas, Portugal teve/baixou substancialmente as suas taxas de juro devido a entrada de 6 anos na CEE. Como sabemos, baixa a taxa de juro, aumenta o consumo e o Investimento IS/LM....o resto da história sabes tu ;)