Será que a Rússia está prestes a deixar de ser considerado um BRIC?

Quando a Goldman Sachs, conhecido banco de investimento norte-americano, criou o acrónimo "BRIC", pretendia catapultar quatro grandes mercados para o cerne das preocupações dos investidores: Brasil, Rússia, Índia e China. Já lá vão alguns anos desde a criação de um dos acrónimos mais conhecidos do mundo da economia, e a aposta da Goldman Sachs foi ganha durante muito tempo. Estes países, deveriam representar um novo "Eldorado" para os investidores, e pedia-se a grandes instituições internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) a par dos países desenvolvidos que olhassem para ester mercados como grandes oportunidades de crescimento para as suas empresas e respetivas economias.

Mas se por um lado, a globalização resultante da maior integração entre as nações já desenvolvidas do ocidente e os BRIC resultou numa aceleração das trocas comerciais, com todos os benefícios daí decorridos, a verdade é que parecem ter sido mais as empresas a ganhar dos que os povos das economias mais desenvolvidas. As empresas ganharam novos mercados para as suas vendas, mas em troca as populações dos mercados nativos viram os seus rendimentos reais descerem (ou melhor, existiu uma tentativa deliberada para controlar os custos unitários de trabalho), tudo em prol de um determinado conceito de competitividade, que viu a luz da ribalta no final do século passado, e principalmente desde a adesão da China à OMC em 2001.

As palavras de ordem passaram a ser "internacionalização", "inovação" e "produtividade" e pediu-se muito mais às sociedades ocidentais. Pediu-se para que se tornassem mais competitivas. Para que pudessem fazer face ao dinamismo crescente dos BRIC. Só que os economistas, viveram de tal forma obececados com o sucesso do acrónimo "BRIC" que se esqueceram de analisar algo: a sustentabilidade dos mercados BRIC. E a meu ver, o grande ponto fraco dos BRIC é a Rússia. Vejamos em relação aos quatro países BRIC:

- A Rússia é aquele que apresenta a menor taxa de crescimento do PIB (mesmo assim foi de 4,0% em 2010)
- O PIB pc da Rússia é de quase 20 mil dólares, quase tanto como o PIB pc Português, o mais elevado dos BRIC
- Estima-se que a Rússia perca 30 milhões dos seus habitantes no período entre 2010 e 2050, cifrando a sua população em não mais do que 109 milhões, um quinto do total da UE-27 nesse mesmo ano, e a população mais baixa de todos os BRIC
- A população russa é a mais envelhecida dos BRIC
- A esperança média de vida na Rússia é de apenas 69 anos em 2009, o segundo valor mais baixo dos BRIC (apenas a Índia tem um valor inferior, com 65 anos)
- A incidência de doenças do sistema circulatório é extremamente elevada na Rússia, mais do dobro do que em relação à Índia e três vezes mais do que em relação à UE-27
- Apenas 6% da população estudantil no ensino superior estuda Ciências, enquanto na UE-27 esse valor é de 9% e no Brasil é de 22%; 46% dos estudantes na Rússia preferem ingressar nas ciências sociais, o que pode condicionar a capacidade científica e tecnológica no longo prazo
- O coeficiente de Gini na Rússia é o segundo mais elevado dos BRIC, apenas sendo suplantado pelo Brasil
- A Rússia já tem uma pequena percentagem da sua população concentrada no seu sector agrícola, indicando que o país já efetou o seu movimento de transformação estrutural (a China, por exemplo, ainda tem 40% da sua população empregada no sector agrícola, a Índia tem 50% e o Brasil cerca de 16%)
- A Rússia apenas tem uma balança comercial positiva, porque 64% das suas exportações são combustíveis, sendo que apenas 3% são maquinaria e material de transporte, a percentagem mais baixa de todos os países BRIC, o que revela que não existe um aparelho industrial desenvolvido
- Apesar da Rússia ser o maior país do mundo, com quase o dobro do tamanho do Brasil e 80% mais que a China, tem uma área agrícola menor que a do Brasil e a da China
- Na Rússia, o contributo do sector privado para os gastos em I&D é o mais baixo dos países do BRIC, o que revela um tecido empresarial ainda com reduzida escala e capacidade inventiva, sendo a maior parte dos gastos financiados pelo Estado.

Como podemos constatar, e apesar da análise económica não cumprir com as melhores práticas estatísticas, a apresentação deste conjunto de indicadores revela que a evolução económica para a economia russa não é a melhor nos próximos anos. Espera-se um lento definhar da sua economia e sociedade, ou um colapso abrupto caso o sucesso deste país dos BRIC deixe de estar assente na exportação dos seus combustíveis.


Fonte: Eurostat. The European Union and the BRIC countries. 2012 edition.

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