A China é actualmente o maior produtor e exportador mundial de motociclos, com 50% de quota de mercado mundial, o que corresponde a mais de 15 milhões de unidades. Grande parte desta produção é realizada em Chonqping, uma metrópole chinesa situada perto do rio Yagtsé, que também é a metrópole de mais rápido crescimento em todo o mundo.
Para quem pensa que estes produtos são concebidos sem qualidade, copiando apenas modelos já existentes no mercado (ou seja, a chamada "engenharia reversa"), está redondamente enganado. A China nos anos 90, quando iniciou a transição da economia de planeamento central para a economia de mercado, abriu portas aos maiores produtores mundiais, entre os quais os grandes fabricantes de motociclos asiáticos como a Honda, Suziki e a Yamaha. Aqui, estes produtores conseguiam alcançar margens brutas superiores, devido ao extraordinariamente baixo custo da mão-de-obra. Os chineses, que poucos conhecimentos detinham na altura sobre como "concepcionar" um motociclo, limitaram-se nos primeiros anos a montar os equipamentos já concebidos nos "headquarters" dos fabricantes. Mas com o passar dos anos, os chineses não só aprenderam os segredos da produção e da concepção gráfica dos equipamentos, como melhoraram em muito todo o processo relacionado com a cadeia de abastecimento. Ao surgirem as primeiras marcas chinesas, como a Lifan, os chineses conquistaram cerca de 40% da quota de mercado na Ásia às marcas Japonesas e Coreanas.
E como? Bem, as empresas chinesas resolveram colaborar e competir entre si. Pertencendo a um tecido empresarial muito fragmentado, as milhares de empresas chinesas que compõem a indústria de produção de motociclos em Chonqping, colaboram com base na hiperespecialização, o que permite a cada empresa desenvolver na "perfeição" o único módulo do equipamento que produzem. Não só estão sempre a introduzir melhoramentos nessas partes, como a produção em massa fa zcom que consigam baixar ainda mais os custos. Por exemplo, o tempo de produção de um motociclo em Chonqping é agora substancialmente mais baixo do que quando eram produzidos os motociclos das marcas Japonesas e Coreanas. E também é muito mais baixo...
Em 2000, a China exportava meio milhão de motociclos, mas em 2005, multiplicou esse valor por 14 e passou a exportar sete milhões de unidades. A Honda, viu a sua quota de mercado no Vietname cair de 90% para 30%, pois em 10 anos, a proposta de valor dos produtores de Chonqping permitiu passar de um preço médio por unidade de 700 dólares para apenas 200 dólares!
Esta proposta de valor está centrada em três princípios:
- A arquitectura do motociclo é modular o que permite aos fornecedores ligarem subsistemas de componentes a interfaces padronizados
- A inovação incremental é algo realizado diariamente: os produtores locais estão sempre a melhorar o desempenho dos seus componentes
- Os fornecedores das peças adjacentes assumem a responsabilidade de assegurar a compatibilidade das suas peças, com base em redes de conhecimento informais e flexíveis
As novas concepções originadas estão sempre de acordo com os objectivos de custo, qualidade desempenho e integração e é assim que este sistema auto-organizado de concepção e produção é apelidado pelos economistas da Universidade de Tóquio por "Modularização Localizada". O motociclo é um único produto, concebido por centenas de produtores locais, que produzem componentes modulares e integrados numa única arquitectura. Devido à intensa colaboração, os custos são baixos e os prazos são cumpridos. A hiperespecialização fomenta a inovação e melhorias na qualidade e no desempenho. Como existem também centenas de fornecedores especializados na produção do mesmo componentem, a forte competição reduz ao minímo os custos.
Este é, visto de longe, um sistema caótico, forjado ao mesmo tempo em torno das regras da colaboração e da competição. Mas do caos surge a ordem, e todos os produtores estão sintonizados na perseguição dos mesmos objectivos gerais, sob pena de pereceram em virtude da forte concorrência. Não será isto o mais próximo que existe da Concorrência Perfeita?
Bibliografia:
Tapscott, Don, Williams, Anthony D., Wikinomics - how mass collaboration changes everything, Portfolio, 2006
Este é, visto de longe, um sistema caótico, forjado ao mesmo tempo em torno das regras da colaboração e da competição. Mas do caos surge a ordem, e todos os produtores estão sintonizados na perseguição dos mesmos objectivos gerais, sob pena de pereceram em virtude da forte concorrência. Não será isto o mais próximo que existe da Concorrência Perfeita?
Bibliografia:
Tapscott, Don, Williams, Anthony D., Wikinomics - how mass collaboration changes everything, Portfolio, 2006
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