Estes últimos dias trouxeram dois indicadores que dão que pensar a todos nós Portugueses. A execução do Orçamento do Estado produziu em 2009 um défice de 9,3% do equivalente do PIB e a taxa de desemprego aumentou para 10,4% da População Activa. Todos os dias nos deparamos com notícias nos media sobre o estado da Economia Nacional e Mundial, e no entanto, muitas pessoas não percebem o porquê de Portugal ter desperdiçado uma década em termos de desenvolvimento económico.
Existem várias coisas que vamos analisar neste post:
- Porque é que Portugal não apresentou nos últimos dez anos uma taxa média de crescimento anual superior à média da Zona Euro;
- Que acontecerá na próxima década ao nosso País e porque interessa conhecer esses possíveis cenários;
- Como Portugal pode regressar a crescimentos superiores aos da média comunitária.
Este post, traduzir-se-à numa análise simplificada e traçará também conclusões simples. Porque na Economia, tal como na Gestão, as políticas devem ser simples.
- Vamos agora ao primeiro ponto. Neste blog, já explorámos as estratégias genéricas de Michael Porter. Basicamente, existem duas grandes estratégias competitivas: liderança pelos custos ou diferenciação. Na primeira, tanto as empresas como os países competem para serem os mais eficientes em termos de produção, e quando se fala em eficiência na produção, falamos em ser-se produtivo e o mais barato possível. Na Economia da Inovação, isto também se pode chamar uma estratégia de low value added, visto que o tecido empresarial é dominado pela lógica da padronização, da eficiência, dos custos reduzidos. A grande preocupação é produzir mais barato que os concorrentes e conquistar lucros na escala. Ora Portugal, até final dos anos 90, manteve o seu desenvolvimento assente nesta lógica de low value added, até porque era uma das "fábricas" da União Europeia (UE), e essencialmente as nossas exportações destinavam-se ao mercado comunitário. Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, com a chegada do Euro, e com a entrada de 12 novos países na UE nesta última década, Portugal descobriu que já não era mais a "fábrica" da UE, pois existiam outros capazes de produzir mais barato, e com maior produtividade. O modelo de desenvolvimento económico português "estoirou" e assim se perderam 10 anos.
- Passar de um modelo de desenvolvimento económico para outro, requer tempo. Porque o outro modelo possível, o da Diversificação (ou Inovação), é um modelo high value added, isto é, um modelo assente principalmente num único factor de produção, o capital humano, necessitando este de ser altamente qualificado. A questão da qualificação dos trabalhadores Portugueses tem "pano para mangas": se o nosso número de diplomas atribuídos representam apenas a nossa qualificação do ponto de vista quantitativo, é de frisar que o mais importante numa Economia da Inovação são as competências qualitativas. Por competências qualitativas entende-se aquilo que sabemos fazer, e o quanto bem sabêmo-lo fazer. Se é verdade que Portugal tem um grande número de diplomados, também é verdade que a maior parte dos mesmos provém de Universidades pouco prestigiantes (sinónimo de que a qualidade das mesmas é bastante questionável) e de que as suas qualificações são maioritariamente fora da área de C&T (Ciência & Tecnologia). Portugal é dos países da OCDE com a menor taxa de diplomados nas áreas de C&T, algo que inibe a cultura de empreendedorismo e de inovação no país, e o desenvolvimento de produtos e serviços high-tech.
- Prevê-se, por isso, que a próxima década seja também ela uma década perdida. Portugal muito dificilmente conseguirá transformar-se ao longo dos próximos dez anos numa Economia da Inovação, porque para formar um profissional altamente qualificado nas áreas de C&T são precisos entre 5 a 8 anos. Só o "tecto" máximo representa quase uma década.
- Que fazer então? É redutor pensarmos que Portugal conseguirá regressar ao crescimento apenas baseando o seu modelo de desenvolvimento em torno da Inovação. Existem outras questões como a Carga Fiscal, o Endividamento e o Envelhecimento da População que são necessárias trabalhar para estimular o crescimento económico. Mas devemos apostar na Qualificação em C&T mais do que nunca, nas Engenharias e na Gestão, em Universidades de Prestígio Internacional, para que possamos com essas experiências, termos um espírito de maior abertura e tolerância ao mundo, para desenvolvermos o nosso espírito crítico, analítico e criativo. É possível nos transformarmos numa Economia da Inovação, mas as políticas públicas têm de estar articuladas e temos de caminhar efectivamente nesse sentido. Esse deverá ser já o nosso próximo grande desígnio nacional.
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