Criatividade como a base da Inovação

Num post anterior, abordámos que para chegarmos a uma Inovação, temos de recorrer à Criatividade para gerarmos uma ideia, e temos de materializar essa Ideia dando assim origem a uma invenção. Se a inovação é a utilização económica de uma Invenção, não é menos verdade afirmar que sem ideias não existem inovações. Mas como nem todas as ideias servirão para mudar o mundo, ou as nossas indústrias, empresas ou vidas, interessa também afirmar que em determinados instantes pode surgir uma ideia que materializada poderá alterar o nosso contexto competitivo. E quando essa ideia se materializa, quando a inovação provoca benefícios económicos, aí estamos num ponto de viragem.

Mas frequentemente tenho reparado que muitas empresas não têm consciência da importância da criatividade. E quem acha que a criatividade é algo que apenas diz respeito a empresas ligadas ao design e à publicidade, então que seja bem vindo a cinco minutos de leitura deste post, pois a criatividade é algo que pertence à nossa vida e ao dia-a-dia das nossa organizações. Todos os dias pensamos e geramos novas ideias. O verdadeiro desafio pode estar em materializar, mas para quê materializar uma nova ideia que muitas vezes pode não acrescentar suficiente valor económico? Ora bem, vamos agora falar de gerar ideias que tragam benefícios económicos que levem as organizações a repensarem o papel da criatividade enquanto suporte à Inovação.

Em primeiro lugar, temos de ter em conta que todos nós estamos repletos de associações. Que são associações? Associações são caminhos que produzimos dentro da nossa mente quando nos deparamos com partes de informação e lhe conferimos um significado. As associações estabelecem-se após estarmos familiarizados com determinadas cadeias acção-reacção ou causa-efeito. Isto faz-nos pensar e acreditar que por um acontecimento despoletar outro, isso significa que tal pode ser tomado como adquirido e verdadeiro. Imaginemos: se hoje o céu está muito nublado, é melhor levar o guarda-chuva para a rua. Embora não esteja a chover, as nossas experiências anteriores levaram-nos a concluir que quando está muito nublado, a probabilidade de chover é grande, e se chover é melhor termos um guarda-chuva à mão para nos precavermos. Este atalho que fazemos é precioso, porque mostra como o nosso cérebro guarda informação e nos relembra que por apenas estar "nublado" devemos tomar precauções. No entanto as associações impedem-nos muitas vezes de perceber que existem outros caminhos ou hipóteses que podem ser tomadas. Isso é particularmente evidente na nossa actividade profissional, quando não vislumbramos oportunidades de inovações diante de nós. Por exemplo, na década de 70, a Xerox produziu o primeiro PC, mas a Administração da empresa achou que não existia mercado para um produto tão fora do comum como um computador pessoal. As barreiras associativas dos Administradores da Xerox, impediram-nos de vislumbrar mais além.

O que fazer então? Uma excelente forma de quebrar barreiras associativas é conviver e trabalhar com pessoas de formações diferentes das nossas e de culturas também elas diferentes. Cruzar diferentes saberes e conhecimento é uma das formas mais imediatas e menos dispendiosas que as empresas podem adoptar para se tornarem mais inovadoras. É nos chamados hotspots empresariais que a Intersecção pode ocorrer e a criatividade pode ganhar um novo rumo. Mas mais: as empresas devem também garantir, que mantém os seus colaboradores apaixonados pelo seu trabalho. A paixão mantém os trabalhadores motivados e focados no seu trabalho, tornando pouco eficiente a oferta de bónus ou prémios cujo objectivo é favorecer a apresentação de novas ideias. Aliás, diversos estudos internacionais, sugerem mesmo que os incentivos às novas ideias nas organizações não funcionam da forma esperada, porque a partir do momento em que existem incentivos, a mente humana torna-se menos eficiente em torno do processo criativo, pois muitas vezes as pessoas ficam mais preocupadas em receber o prémio do que em construir uma boa ideia. A inversão das prioridades torna a "criatividade genuína" mais favorável à realização de melhores inovações.

Por fim, resta apontar algumas técnicas criativas e falar de alguns mitos. Nas organizações, e especialmente nos últimos anos, cada vez mais é atribuído maior ênfase à necessidade de se pensar em grupo. Técnicas criativas como o Brainstorming são apresentadas como grandes fóruns de discussão e como pólos de excelência para produzir novas ideias. Mas segundo diversos estudos da Professora Teresa Amabile, especialista em Criatividade da Harvard Business School, o Brainstorming é menos eficiente que a estimulação criativa de forma individual. Ao longo dos últimos anos, Amabile tem provado que em grupo, os indivíduos não só tendem a sentir-se pouco à vontade na apresentação de sugestões e ideias, mas principalmente, o espaço para debater todas as ideias torna-se limitado, pelo que algumas sugestões são frequentemente esquecidas. Amabile sugere a utilização de uma técnica chamada Brainwritting antes ou no início de cada Brainstorming, de forma a cada indivíduo possa escrever num papel o máximo possível de novas ideias e depois colocá-las à consideração do grupo. Segundo esta investigadora, o processo individual deve sempre vir antes do processo de grupo, de modo a aumentar o leque de ideias disponíveis. Mais importante ainda, é na fase da discussão, nunca se julgarem as ideias dos outros antes da fase criativa estar terminada. O objectivo das técnicas criativas é levantar ideias e não produzir no imediato invenções e inovações. Essas são sempre etapas seguintes.

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