Ecossistemas locais de conhecimento: pilares da inovação e da competitividade

Tanto na gestão industrial como na política económica, quando se fala em inovação e competitividade é necessário ter presente que qualquer output depende da escolha e gestão dos inputs a utilizar. Que quer isto dizer? Quer isto dizer que simplesmente a inovação e o próprio incremento competitivo que daí advém depende muito dos recursos utilizados, das competências assimiladas e dos processos internos existentes.

Falar de inovação está na moda. Qualquer empresa ou mesmo cidade/território procuram agora transformar-se subitamente em organizações ou territórios inovadores. Mas esquecem-se frequentemente que inovação não é o mesmo que criatividade ou invenção. Voltemos a relembrar as diferenças.

Criatividade é a habilidade que temos para ter novas ideias. Qualquer um de nós pode ter novas ideias nas mais variadas áreas. Existem ideias mais complexas e outras menos complexas. Outras que podem ter maior potencial de impacto no mercado e outras com menor. Já a invenção é a materilização da ideia. Pode ser o passar da nova ideia para um protótipo, um desenho ou um processo. Mas a inovação é o sucesso económico dessa invenção. Existe pois uma clara distinção entre todos estes conceitos, mas mesmo assim, dentro do sucesso económico das invenções, existem diferentes graus de impacto e de transformação da organização ou até do território.

Para inovar correctamente, e extrair valor económico, é necessário que tanto as organizações como os territórios possuam competências de inovação. Entende-se por inovar correctamente, o processo de inovação estratégica, capaz de fazer a organização ou território crescer sustentadamente em prol da sua visão ou intenção estratégica.

E a falta de competências de inovação constituí o primeiro grande entrave à competitividade estratégica, pois as competências de inovação estão na base dos ecossistemas locais de conhecimento. Estes ecossistemas são o conjunto de agentes e de relacionamentos que possibilitam a troca de conhecimentos, determinando a intensidade da mudança e viabilizando o sucesso da estratégia de inovação. Trabalhar com parceiros cujo nível de conhecimento é deficiente ou inapropriado para um projecto é colocar em causa a concretização do mesmo, tanto em termos de timings como de gestão actual e futura do projecto.

Dentro das organizações, um ecossistema de conhecimento é essencialmente constituído pelos activos humanos que em si conservam um capital de competências e experiências inigualável face a outras organizações. A difusão desse conhecimento dá-se através da partilha e da interacção entre os vários grupos de trabalho. É fácil perceber que as organizações com maiores competências de inovação, são aquelas onde o capital de conhecimento é maior. Mas para a política de inovação ser bem sucedida devem também existir sistemas de inovação estruturados que facilitem as trocas de conhecimento. Sem um ecossistema local de conhecimento bem definido e eficiente, a organização pode debater-se com um sério problema de entropia de competências.

Depois, no que diz respeito aos territórios, o desenvolvimento de um ecossistema local de conhecimento é um pouco mais complexo e demorado. Por exemplo, as Universidades, enquanto pilar chave da difusão científica numa dada população, tendem a adaptar-se com o tempo às necessidados dos seus territórios (aliás, da procura gerada), numa óptica de ajuste de equilíbrio tal como conhecemos da Teoria Económica dos Mercados Eficientes. Isto é, uma Universidade ligada ao mundo rural tenderá a especializar-se na oferta que possa satisfazer essa procura local. Uma Universidade urbana tenderá a seguir uma outra especialização.

Falar de competitividade territorial implica reflectir sobre as redes de conhecimento locais. Olhar para as Universidades locais e actuar junto das mesmas (potenciar o desenvolvimento de novas áreas e competências científicas), permitirá que o conhecimento difundido num território possua um perfil diferente. Conhecimento diferente potencia maiores choques culturais e sociais, propícios à geração de novas ideias e consequentemente mais inovação.

Actuar sobre os ecossistemas locais de conhecimento, tanto nas organizações como nos territórios, possibilita manipular as competências de inovação, transformar as culturas locais e reforçar, em última instância, a competitividade estratégica. As redes de conhecimento são complexas, mas não nos podemos nunca esquecer que só podemos aprender perante novos contextos. As mesmas questões sobre os mesmos problemas resultam frequentemente nas mesmas respostas. O reforço da competitividade estratégica está assim dependente de novos conhecimentos e da capacidade de se ser resiliente em múltiplos contextos.

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