Muito se tem falado sobre a zona Euro e o seu futuro. No entanto, é habitual que existam muitas e diferentes opiniões sobre este tema, umas mais consensuais e outras menos, mas quando falamos de futuro, traçar um prognóstico exacto é quase impossível. No entanto, pensar sobre o nosso futuro é algo necessário para potenciar a nossa aprendizagem. O constante foco dos políticos portugueses no curto prazo não lhes tem permitido traçar políticas adequadas e estruturais de longo prazo. E é por isso que pensar sobre o futuro correctamente permite que antecipemos hoje diferentes cenários alternativos. Conhecer os vários caminhos possíveis para o nosso desenvolvimento económico actual permite que possamos escolher políticas mais adequadas para atingirmos estágios de desenvolvimento mais robustos e resilientes.
No dia 21 de Abril, em pleno auge da crise Grega, publiquei o primeiro post neste blog sobre o que seria o possível fim do Euro, já num horizonte temporal de cinco anos. Estas conclusões advinham não apenas da formulação de um simples juízo de opinião, mas principalmente pelo facto de na altura ter elaborado uma investigação sobre a "Coesão Monetária da Zona Euro em 2020", utilizando o método da Análise Morfológica combinando cinco incertezas cruciais: evolução económica dos países da zona euro, demografia na zona euro, preço do barril de petróleo, cotação do euro face ao dólar e a disponibilidade dos BRIC em absorver a dívida europeia.
Dos três grandes cenários traçados, apenas um era favorável à subsistência da Zona Euro, pois todas as variáveis se alinhavam em torno da facilitação do crescimento económico europeu. Mas bastou que uma das cinco incertezas cruciais atingisse uma configuração negativa para que a Zona Euro encontrasse logo uma situação económica débil, aumentando essa debilidade em função do número de configurações negativas. Este exercício simples permite-nos acima de tudo perceber que a resiliência da Zona Euro é actualmente muito fraca. E quando a resiliência de um mesmo espaço monetário é tão reduzida então, e face ao actual contexto de mudança acelerada em que vivemos, podemos afirmar com algum grau de certeza, que de facto, existe a possibilidade de a Zona Euro terminar. Porque temos de reconhecer que as economias europeias não estão actualmente preparadas para fazer face às economias mais competitivas do Oriente, América Latina ou mesmo África. A população europeia está a envelhecer, as despesas sociais estão a sobrecarregar bastante os orçamentos nacionais, os rácios de dívida pública e privada são enormes, produzimos pouco e caro face aos nossos concorrentes asiáticos e possuímos ainda uma grande dependência energética face ao petróleo!
Cavaco Silva respondeu esta semana a Paul Krugman que este provavelmente não teria conhecimento suficiente sobre a Zona Euro para poder afirmar que o Euro estaria em risco no curto prazo. O nosso Presidente da República justificou a sua posição com o facto de ser um profundo conhecedor sobre a Zona Euro, tendo já muitos trabalhos de investigação realizados e muitos livros publicados. Com esta afirmação, Cavaco revelou ser um economista com um elevado sentido de "miopia" económica, pois justificou o possível sucesso da Zona Euro apenas com a adopção de medidas internas, esquecendo-se totalmente dos factores externos à Zona Euro, isto é, os factores exógenos, como a credibilidade da dívida europeia junto dos investidores internacionais (principalmente os BRIC), o preço do barril de brent (que não controlamos) e o preço do Euro face ao Dólar que condicionará a performance das nossas exportações (algo que também não controlamos de todo).
Vivemos num sistema económico dinâmico e não fechado. Um Presidente da República deve defender a sua economia mas não deve ser míope. Existe de facto a possibilidade de a Zona Euro ruir, e se isso acontecer, o pensarmos hoje o futuro correctamente permitirá uma antecipação dos cenários e principalmente uma actuação apropriada da política económica nacional face ao novo contexto. Não devemos negar as possibilidades que nos parecem ser mais nefastas, porque todos os cenários, mesmo aqueles que aparentam ser mais negativos, não trazem apenas ameaças: estão também repletos de oportunidades.
Comentários
1º - O Ganhar da Guerra de Câmbios com os EUA e Sim estamos em Guerra, por isso, a Alemanha está a desvalorizar o € com Financiamentos da Dívida....Longa História
2º - A entrada de países com elevado potencial de Crescimento no Leste