A competitividade da Grécia: uma verdadeira tragédia grega

Muito se tem falado da crise da competitividade grega. Este post não será longo mas será um resumo dos principais problemas gregos, à luz do relatório de competitividade mais recente do Fórum Económico Mundial (WEF). Vejamos por exemplo, os cinco principais problemas reportados pelos empresários gregos, que constituem um entrave à atividade empresarial:

1º Burocracia ineficiente
2º Acesso ao financiamento
3º Corrupção
4º Legislação Fiscal
5º Instabilidade Política

Nos cinco primeiros problemas identificados, três deles estão diretamente dependentes do sistema político (o 1º. o 4º e o 5º), um do bancário (o 2º) e o outro (o 3º) representa um misto entre o brando poder judicial, a matriz socio-cultural grega e o espelho da liderança política do país.

Mas o relatório do WEF vai mais longe: ao analisar a posição competitiva da Grécia num ranking total de 142 países, constatamos que a Grécia é atualmente considerada a 90ª economia mais competitiva do mundo (em 142 países; em 2009 era a 71ª, caíu 19 lugares no ranking). Isso deve-se principalmente ao fraco desempenho nos seguintes indicadores (posição da Grécia no conjunto dos 142 países):

Confiança nos políticos: 123/142
Carga da legislação na sociedade: 133/142
Défice do orçamento de estado em % do PIB: 136/142
Taxa bruta de poupança em % do PIB: 137/142
Dívida pública em % do PIB: 141/142
Qualidade do sistema educativo: 120/142
Qualidade das escolas de gestão: 104/142
Número de procedimentos necessários para iniciar um negócio: 133/142
Rigídez do mercado laboral: 125/142
Disponibilidade de capital de risco: 103/142
Desenvolvimento de clusters: 115/142
Investimento das empresas em I&D: 129/142
Colaboração entre Universidades e empresas em I&D: 120/142

Nos 12 indicadores seleccionados, a Grécia surge sempre para lá da posição 100! Ou seja, em todos esses indicadores, existem no mundo, pelo menos 100 países mais bem classificados que a Grécia. E o problema é que existem indicadores altamente estruturantes da economia grega como por exemplo a qualidade do sistema educativo, a disponibilidade de capital de risco ou o investimento das empras em I&D. Não basta a Grécia resolver os seus problemas políticos e macroeconómicos. A sua educação e a sua competitividade económica têm de aumentar, nos domínios da formação superior, da inovação e do empreendedorismo. Mas mesmo que essas políticas ou reformas sejam empreendidas, vão ser necessários vários anos para se atingir o resultado desejado. Por isso, os próximos tempos não serão mesmo fáceis para a Grécia, pois para além dos problemas de finanças públicas que atravessa, o país possui um tecido empresarial envelhecido, pouco dinâmico e muito pouco inovador, para além de uma grande rigidez no mercado laboral. E é este o principal "calcanhar de Aquiles" da economia grega. Resta saber o desfecho desta tragédia pois de certeza que os mercados internacionais e os políticos não terão respostas claras nos próximos tempos para colocar a economia a crescer, face à concorrência feroz dos países asiáticos e do leste europeu...


Fonte: WEF, The Global Competitiveness Report 2011–2012.

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