Sejamos diretos: quando maior a riqueza acumulada, maior a riqueza do indíviduo, empresa ou nação. Por outras palavras: quanto maior o ativo, maior a riqueza. Mais simples ainda: quanto maior o saldo (positivo) da sua conta bancária, mais rico é.
Existe alguma dúvida nesta última afirmação? Acho que ninguém tem dúvidas sobre os critérios que permitem comparar a riqueza entre empresas, países ou pessoas.
O mundo vive há muitos anos sobre uma falácia económica. Estamos hoje no século XXI, e é dito a um romeno que deve ganhar menos que um alemão, porque é menos produtivo. Um sueco é altamente produtivo, e um finladês também. Um português é "menos" produtivo que um espanhol e também deve ganhar menos. Um grego é mais produtivo que um espanhol e por isso deve ganhar mais.
Mas o que é a produtividade? Um Português é de facto menos produtivo? Geralmente, a produtividade do trabalho é medida de forma até bastante simples. A produtividade é a divisão do produto (Y ou rendimento) pelo número de trabalhadores. Se numa empresa, a produtividade poderia ser vista como a divisão do volume de negócios sobre o número de colaboradores, numa nação, a produtividade deve ser vista como a divisão do PIB sobre o número de trabalhadores.
Simples? Avancemos. Então como aumentar a produtividade? Para um dado "Y" (ou Rendimento, num país), aumentamos a produtividade se o número de trabalhadores diminuir (e Y se mantiver constante, por exemplo) ou se Y aumentar para o mesmo número de trabalhadores (por exemplo).
Então como é que Y aumenta? Bem, Y só aumenta se alguma destas variáveis aumentar:
Y = C + I + G + Ex - Im, em que C é o consumo privado, I é o investimento, G é consumo público, Ex são as exportações e Im são as importações (este último tem sinal negativo, ou seja, cada aumento leva a Y a diminuir).
Então é só isso? Basta as exportações aumentarem para sermos mais produtivos? Bem, depende do comportamento das outras variáveis... Mas tendencialmente a maioria dos economistas diriam que sim.
Considero este discurso um absurdo. Para já, porque as exportações podem aumentar sem levar ao aumento dos salários (durante os últimos 3 anos, as exportações têm aumentado em Portugal, e os salários só agora no final de 2014 foram aumentados, e falamos apenas do aumento do salário mínimo nacional).
Depois, porque uma economia moderna depende do consumo interno: isto é, consumo privado e consumo público. É assim com todas as economias da OCDE. Pelo menos 70% da economia é consumo. Se pelo menos 70% da economia é consumo, a única forma de por a economia a crescer é pelo consumo. Esta sempre foi a grande locomotiva. Claro que não devemos descurar o investimento e as exportações... mas geralmente, as empresas para investirem, pedem emprestado, e se a poupança interna não chega, então é necessário recorrer à poupança externa e a dívida de um país ao exterior começa a aumentar. Por outro lado, se não existe mercado interno, dinâmico e robusto, para quê uma empresa investir? Pode investir noutro país, até com custos unitários de trabalho mais favoráveis... E se as empresas não investem... não há milagres nas exportações!
Que fazer então? Que fazer para colocar um país a crescer? Bem, a meu ver: expandir a procura interna. Até porque a massa salarial em Portugal está significativamente abaixo da massa salarial na Grécia, Espanha e Itália, por exemplo. Os irlandeses, que desde a adesão à UE praticaram uma política de expansão da procura interna, têm hoje um dos PIB pc mais elevados do mundo. Então porque nós não fazemos o mesmo?
Bem, a meu ver, porque temos um dogma pela frente: o de Portugal ser um país pobre. Considero um imperativo nacional não nos resignarmos a este dogma. Considero urgente existir um compromisso sério para o aumento do salário mínimo nacional. Dar um maior salário às pessoas é resolver vários problemas:
1) Problema da sustentabilidade da segurança social, pois um salário mais elevado contribui com mais peso para a segurança social, o que permite pagar as atuais pensões (por outro lado, deve continuar a garantir-se a moderação das pensões pagas e a pagar)
2) Revitaliza o consumo, fomenta a poupança e permite às empresas voltarem a investir pois estas voltam a confiar no mercado interno
3) Permite quebrar com o estigma de que Portugal é um país pobre, comparando com outros parceiros europeus.
É urgente aumentar os salários em Portugal. Para quebrar com o estigma da probreza. Para garantir novamente a convergência dos valores de PIB pc com a média europeia. O país deve traçar um compromisso para fazer crescer o seu salário mínimo, e consequentemente o salário médio, beneficiando todos os portugueses e toda a economia. Portugal e Espanha deveriam formar um compromisso mútuo para fortalecer as suas economias e respetivo poder de compra e desenvolverem conjuntamente uma estratégia de convergência para as médias europeias. Portugal e Espanha deveriam apontar uma estratégia para já em 2020 chegarem a um salário mínimo de 750 euros, e em 2025 conseguirem atingir os 1000 euros. Nenhum país da zona euro, deveria competir na mesma região e sob a mesma política monetária, com diferenciais salarias tão profundos como o que hoje se praticam. A convergência salarial é a melhor medida de dinamização do mercado interno e da economia da zona euro. Seria um novo estímulo e um novo rumo, um novo futuro para uma Europa menos desigual, mais coesa e mais próspera.
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