O Governo congratulou-se esta
semana pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2,8%, para o segundo
trimestre deste ano e em termos homólogos. O número foi avançado pela
estimativa rápida do INE, e desencadeou uma onda de comentários elogiosos à
situação registada na economia portuguesa. Mas estará realmente a economia
portuguesa, após a recente crise económica, a crescer de forma sustentada?
Aqui começa esta reflexão que
procura debater a performance da economia portuguesa e as condições estruturais
para a sustentabilidade e o progresso económico e social do país. A estimativa
rápida do INE refere que o contributo para o crescimento económico registado se
deve essencialmente à procura interna, devido à evolução da componente de
investimento, dado que o efeito da procura externa registou “um contributo
ligeiramente negativo” para o crescimento do PIB, pela desaceleração em volume
das exportações.
O crescimento sustentado pela
procura interna não deixa de ser um crescimento. Mas para a riqueza do país crescer
de forma sustentável, assim como para que exista mais emprego e melhores
salários, importa que as empresas portuguesas sejam mais competitivas e
melhorem a sua performance.
A competitividade empresarial é
vital para o nosso progresso económico. E neste campo há ainda muito a fazer.
Entre 2008 e 2013, Portugal foi o país da OCDE que mais pequenas e médias
empresas (PME) perdeu no setor da indústria. Efeitos da crise económica, é
certo, mas uma compressão de quase 5% no número de PME industriais coloca-nos à
frente das perdas registadas na Espanha ou na Itália, países que sofreram
também com a crise. O mesmo aconteceu com as nossas PME na área da construção
civil, mas aqui com uma quebra mais avultada, quase próximo dos 10%.
A competitividade das empresas
portuguesas é um tema recorrente mas Portugal ainda tem um longo caminho a
percorrer para que as nossas empresas sejam mais eficientes, mais inovadoras e
mais internacionais. Segundo o estudo da OCDE “Entrepreneurship at a Glance”
uma PME em Portugal, na área da indústria, emprega 7,7 trabalhadores em média.
Um número que contrasta com os 13,0 trabalhadores empregados por PME industrial
na Áustria, os 17,0 na Alemanha ou os 12,4 na Estónia. É preciso olhar para os
nossos vizinhos espanhóis para encontrar uma média mais baixa que a nossa, com 7,3
trabalhadores por empresa industrial. Mas enquanto as PME espanholas têm um
número médio de trabalhadores inferior ao das PME industriais portuguesas, as
grandes empresas industriais espanholas, em média, empregam 696,5 colaboradores
contra os 522,8 de média nas grandes empresas industriais portuguesas.
Para exportarmos mais e para
sermos mais eficientes, as empresas portuguesas necessitam de ganhar escala
competitiva. O tecido empresarial do nosso país é composto maioritariamente por
micro empresas (quase 95% das nossas empresas são micro). É um discurso
recorrente no nosso país, mas é necessário olhar para as outras economias, mais
competitivas, para conhecermos as diferenças. Por exemplo, na Alemanha, nos
Estados Unidos ou no Japão, o número de micro empresas não é superior a 85% do
total das empresas em cada país. Na Irlanda, o número de micro empresas não
chega a 90% do total do tecido empresarial. E mesmo em Espanha, o número é
ligeiramente abaixo do nosso.
A estrutura do tecido empresarial
reflete-se nos seus próprios resultados. Por exemplo, olhando para o volume de
negócios por trabalhador, Portugal é entre os países mais desenvolvidos um dos que
apresenta este indicador mais baixo. Eslováquia, Grécia, Lituânia, Eslovénia,
República Checa, Hungria, todos países de menor dimensão ou dimensão
equivalente a Portugal têm empresas mais produtivas que as nossas.
Conhecer a fundo o tecido
empresarial de um país é um primeiro passo para promover políticas económicas
mais inteligentes. Não adianta fazer elogios ao desempenho da economia
portuguesa quando o nosso tecido empresarial apresenta fragilidades estruturais
e ainda para mais num momento em que é a procura interna e não a externa que
mais contribui para o crescimento. São as empresas que tornam um país mais
próspero. Valorizá-las é apostar num melhor futuro para todos nós.
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