Tel Aviv, Startup City! Um exemplo de um ecossistema de empreendedorismo

O empreendedorismo está na moda e são já muitas as notícias onde se destacam os casos de startups de sucesso, incubadoras, ecossistemas de inovação e cidades onde o empreendedorismo é visto como um modo de vida.

A "moda do empreendedorismo" levou a que a política pública abraçasse este novo tópico. Existem Governos a lançar programas nacionais de promoção e apoio ao empreendedorismo, existem autarquias a desenvolver "ninhos de empresas" ou "incubadoras", existem associações empresariais a mobilizar projetos de estímulo do empreendedorismo a nível local, regional ou setorial. São já muitos os exemplos de promoção do empreendedorismo... e também os fundos públicos neles investidos!

Mas mais do que os fundos públicos investidos, é importante alertar para algo que normalmente ninguém alerta, e isto é especialmente importante para os mais jovens, aqueles que se preparam ou estão já a embarcar na aventura de criar a sua primeira empresa: é preciso ter cuidado! E é preciso ter cuidado, porque nem todos os ecossistemas de empreendedorismo são iguais...

Há ecossistemas que potenciam mais os resultados e o crescimento das startups que outros. Há ecossistemas, isto é, redes de agentes a nível local ou regional, já testados, já experimentados, já preparados para ativar mais facilmente o sucesso e o crescimento das novas empresas!

A título de exemplo, o mundo olha constantemente para Silicon Valley, e para as empresas que por lá nasceram ou se desenvolveram, como o Google e o Facebook, impérios empresariais nesta nova era da economia digital. Mas... tentem imaginar o que seria se o mesmo Facebook ou a mesma Google tivessem nascido numa pequena cidade no interior da Europa (ou mesmo em Portugal!). Será que teriam tido o mesmo crescimento? Os postos de trabalho criados teriam sido os mesmos?

Segundo a OCDE, os EUA são responsáveis por 85% do investimento mundial em capital de risco. 85% é o mesmo que dizer que praticamente todo o investimento de capital de risco no mundo é feito num único país! E o investimento de capital de risco é fundamental para que as startups possam ter sucesso. Porque basicamente isso significa duas coisas: acesso a capital que lhes permite financiar as operações e crescer, e acesso a conhecimento e experiência, porque o investidor é aquele que muitas vezes, pode fazer a diferença nas áreas da gestão, do marketing mas especialmente das vendas!

A importância do capital de risco é vital para o sucesso dos ecossistemas de empreendedorismo. Têm de existir investidores qualificados e com experiência, capazes de apoiar o crescimento dos empreendedores. E foi isso que um pequeno país, como Israel, percebeu há alguns anos atrás.

Israel criou um ecossistema de empreendedorismo onde os investidores são críticos para o sucesso das operações das startups. Israel é o primeiro país do mundo que mais investe em capital de risco em percentagem do seu PIB. Investe 0,38%, mais do que o Japão, a Coreia do Sul ou a Suíça. Atrás de Israel seguem os EUA, mas os dois países lideram destacados o esforço nacional realizado no mundo na área do capital de risco. Nenhum outro país, em todo o mundo, investe tanto em capital de risco como estes dois, face ao nível de riqueza produzida num ano nas respetivas economia.

Tel Aviv é a capital financeira de Israel. E é a capital das startups no país. Mais do que isso: Tel Aviv é a capital das startups em toda a região do Médio Oriente e uma das capitais mundiais! Nada se compara ao desenvolvimento do ecossistema desta cidade, pelo menos na região do Médio Oriente e Norte de África. O New York Times chegou mesmo a nomear Tel Aviv como a segunda melhor cidade em todo o mundo para se iniciar uma empresa. Mas não é de admirar que uma pequena cidade, com cerca de 400 mil habitantes, esteja nas posições cimeiras de qualquer ranking mundial do empreendedorismo. O próprio Fórum Económico Mundial, no seu último Global Competitiveness Report, indicou Israel como o segundo país mais inovador do mundo apenas atrás da Suíça.

E Tel Aviv tem todas as condições para continuar a ser uma das cidades mais empreendedoras do mundo: clima, rede de transportes, infraestruturas (dezenas de incubadoras, aceleradoras e espaços de co-working), conhecimento (de destacar o papel das universidades em Tel Aviv, especialmente no ensino e na investigação das ciências empresariais e engenharias) mas principalmente, os investidores. Os investidores em Israel têm capital, mas principalmente, Israel tem acesso a uma das comunidades empresariais mais bem sucedidas do mundo: a judaica, e principalmente a judaica residente nos EUA. Os investidores são uma peça importante nestes sistemas e o seu papel tem de ser valorizado vezes sem conta!

Startups conhecidas por todo o mundo como a Wix, a Viber ou a SalesPredict são exemplos de como Israel e a sua máquina de criação e suporte às startups conseguem criar referências mundiais a nível empresarial. Mas sem os investidores por detrás destes negócios, dificilmente estas startups teriam tido a escala mundial que hoje têm.

Portugal, em especial a cidade de Lisboa, tem olhado para o exemplo de Tel Aviv e tem-se tentado posicionar enquanto uma das principais cidades no mundo a nível da criação e suporte às startups. Mas o nosso estágio de maturidade ainda é reduzido e há muito trabalho a fazer. É necessário analisar os impactos a nível da criação de emprego e do volume de negócios. É necessário mapear os investimentos realizados pelos investidores e business angels. E acima de tudo é necessário tempo para construir casos de sucesso.

Aos empreendedores e potenciais empreendedores: tenham atenção aos negócios que possam criar. Trata-se das vossas vidas, e como "tempo é dinheiro", escolham com particular cuidado onde devem investir a vossa energia. Liguem-se às melhores incubadoras, procurem as melhores aceleradoras e associem-se aos melhores investidores. No limite, e em conjunto com o vosso trabalho, isso fará o vosso sucesso.