Valorizar as startups: regras para reforçar a atratividade dos investidores

Muitos empreendedores trabalham de forma árdua nos seus projetos. São horas e horas de dedicação na construção da ideia de negócio, no desenvolvimento da proposta de valor, na projecção de um sonho que querem rapidamente cumprir. Existem muitas razões para um empreendedor se lançar na busca do seu sonho, quer seja maior independência, maior autonomia, maiores ganhos financeiros, sair de uma situação de desemprego ou de um emprego onde não está satisfeito, ou tão simplesmente a busca pela felicidade em fazer algo que realmente lhe dá satisfação em fazer.


Mas depois do modelo de negócio projetado, depois da empresa constituída e depois das primeiras despesas, o sonho começa rapidamente a esfumar-se. Isto porque chegam as dores de cabeça, a guerra com a gestão do saldo da conta bancária, a gestão dos fornecedores, dos stocks, dos serviços a providenciar, a luta comercial para procurar novos clientes, a gestão da marca nas inúmeras plataformas hoje à disposição, e por aí fora.

Ser empreendedor é um desafio extremo, mas para todos aqueles que o procuram ser, é necessário não apenas contar com inteligência e força de vontade, não apenas ter capital disponível para investir, mas também disciplina, persistência e desejo de continuar a trabalhar na melhoria contínua do negócio.

É necessário ter bem presente que um negócio de sucesso, advém da boa execução do plano, e do domínio de diferentes funções, como o marketing, as vendas, o financeiro, o jurídico e os recursos humanos, entre tantas outras dimensões. Muitos já disseram que é importante iniciar um negócio de forma controlada, com reduzida dimensão, e construir o negócio passo a passo, rumo a um futuro mais sustentável.

Mas a qualquer momento, e dado que um negócio concorre sempre em mercado aberto, sujeito à concorrência de tudo e de todos, é necessário ter presente que o mesmo deve estar preparado, desde o dia 1, para cumprir um determinado conjunto de requisitos para caso seja necessário atrair investimento, da banca (por crédito) ou de investidores (capital de risco), a startup cumpra com os critérios mínimos para sobreviver. Destaco alguns fundamentais:

1) Contabilidade organizada, ao mês! Este ponto é vital, nenhum banco ou investidor pode colocar capital num negócio sem que as contas do mesmo sejam certificadas por um Técnico Oficial de Contas (TOC), As contas do negócio devem estar organizadas, e todos os documentos contabilísticos devem estar lançados, para que na data em que seja necessário captar investimento, toda e qualquer parte interessada possa saber na presente data a posição financeira da empresa, se a mesma tem dívidas ou não e se a mesma tem valores a receber dos seus clientes entre outros;

2) Livro de atas atualizado, atas de gerência elaboradas e pactos sociais firmados! Normalmente, as startups são constituídas por mais do que um accionista, são cada vez menos os negócios que nascem de uma só pessoa, porque as startups são investimentos multifacetados que respondem a necessidades de várias funções (engenharia, tecnologia, marketing, financeiro, design, comercial, etc). Na presença de diferentes accionistas, é importante que os investidores tenham claro quem faz o quê e quais as responsabilidades presentes e tomadas até à presente data. Isso deve ficar escrito, assinado e aprovado entre todos os accionistas;

3) Tentar gerar cash flows positivos desde o dia 1! Nenhum investidor gosta de entrar num negócio para perder dinheiro. O negócio será tanto ou mais atrativo para um investidor quanto maior a rentabilidade. E rentabilidade não é a dimensão do lucro. É a dimensão do lucro ou do chamado EBITDA sobre o total do volume de negócios. Existem diferentes perfis de investidores, mas aconselho a que todas as startups procurem rentabilidades mínimas acima de 10% em relação ao rácio EBITDA sobre o volume de negócios, porque abaixo disso, um investidor pode colocar o seu dinheiro noutras aplicações financeiras mais seguras, como os empréstimos obrigacionistas das grandes empresas, que tendem a remunerar acima de 5%;

4) Tornar a marca valiosa, o produto valioso ou a tecnologia valiosa! Muitos empreendedores acabam por investir demasiado de si no negócio, porque a gestão passa a ser mais emocional que racional. E acabam por investir parte do seu tempo à gestão da sua própria imagem, seja em entrevistas, em fóruns sobre empreendedorismo ou eventos de startups. Outra coisa que acaba por acontecer, é a partir do momento que o negócio é lançado, o empreendedor fica absorvido pelas burocracias do negócio: contratos de trabalho para com os colaboradores, pagamentos a fazer ao Estado e à Segurança Social, pagamentos a receber dos clientes, pagamentos a fazer aos fornecedores, e por aí fora. A gestão da marca ou a melhoria do produto ou da tecnologia que vende, muitas vezes, é colocada de parte. Não se aplica a todos os negócios, mas é importante ter presente que os investidores compram negócios e não os empreendedores, isto é, quando o empreendedor vender o seu negócio, o investidor irá olhar para a marca, para o produto ou para a tecnologia, e determinar até que ponto estes valem o investimento. É necessário trabalhar na valorização contínua dos mesmos.

No fundo, os empreendedores devem encarar as suas startups como também um investimento: a ideia central deve ser a de construir um ativo, uma fonte de rendimento, e torná-la cada vez mais atrativa. Valorizar o investimento é a ideia central presente em cada investidor.

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